Ordem
no caos
31
de maio de 2011
Pesquisadores
desenvolvem modelo teórico para explicar e determinar as condições para a
ocorrência de sincronização isócrona em sistemas caóticos. Estudo pode levar à
melhoria de sistemas como o de telecomunicações
Por
Elton Alisson
Agência
FAPESP – Na natureza, enxames de vaga-lumes enviam sinais luminosos uns para os
outros. Isso é feito inicialmente de forma autônoma, individual e independente
e, sob determinadas circunstâncias, pode dar origem a um fenômeno robusto de
natureza coletiva chamado sincronização. Como resultado, milhares de vaga-lumes
piscam em uníssono, de forma ritmada, emitindo sinais luminosos em sincronia
com os demais.
Há
pouco mais de 20 anos se descobriu que a sincronização também ocorre em
sistemas caóticos – sistemas complexos de comportamento imprevisível nas mais
variadas áreas, como economia, clima ou agricultura. Outra descoberta mais
recente foi que a sincronização resiste a atrasos na propagação de sinais
emitidos.
Nessas
situações, sob determinadas circunstâncias, a sincronização pode emergir em sua
forma isócrona, isto é, com atraso zero. Isso significa que equipamentos como
osciladores estão perfeitamente sincronizados no tempo, mesmo recebendo sinais
atrasados dos demais. Entretanto, os modelos teóricos desenvolvidos para
explicar o fenômeno não levaram esse fato em consideração até o momento.
Uma
nova pesquisa realizada por cientistas do Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) resultou em um
modelo teórico para demonstrar como a sincronização ocorre quando há atraso na
emissão e no recebimento de informação entre osciladores caóticos.
Os
resultados do estudo, que podem ser utilizados para aprimorar sistemas
tecnológicos, foram publicados em abril no periódico Journal of Physics A:
Mathematical and Theoretical.
Durante
o estudo, os pesquisadores buscaram explicar a sincronização quando há atraso
no recebimento da informação entre os osciladores caóticos. O objetivo é
determinar as condições sob as quais o fenômeno ocorre em sistemas reais.
“Utilizando
a teoria da estabilidade de Lyapunov-Krasovskii, que trata do problema da
estabilidade em sistemas dinâmicos, estabelecemos critérios de estabilidade
que, a partir de parâmetros como o tempo de atraso no recebimento das
informações entre os osciladores, permitem determinar se os osciladores
entrarão em estado de sincronização isócrona”, disse um dos autores do artigo,
José Mario Vicensi Grzybowski, à Agência FAPESP.
“Foi
a primeira demonstração de forma totalmente analítica da estabilidade da
sincronização isócrona. Não há similares na literatura”, afirmou Grzybowski,
que realiza trabalho de doutorado em engenharia eletrônica e computação no ITA
com Bolsa da FAPESP.
As
descobertas do estudo poderão possibilitar o aprimoramento de sistemas
tecnológicos baseados em sincronização, especialmente em sistemas de
telecomunicação baseados em caos.
Além
disso, entre as possíveis aplicações estão os satélites em formação de voo, em
que um precisa manter uma distância relativa adequada em relação aos outros e,
ao mesmo tempo, estabelecer um referencial (sincronização) que permita o
intercâmbio de informações, coleta e combinação eletrônica de imagens oriundas
dos diversos satélites da formação.
“Nesse
caso, o referencial pode ser estabelecido por meio de um fenômeno que emerge
naturalmente desde que as condições apropriadas sejam proporcionadas,
diminuindo ou até dispensando o uso de algoritmos”, disse.
Redes
complexas naturais
Veículos
aéreos não tripulados, que podem explorar uma determinada região em conjunto,
além de robôs e sistemas de controle distribuídos, que também precisam
trabalhar de forma coordenada em uma rede, podem utilizar os resultados da
pesquisa.
Os
autores do estudo também pretendem fazer com que o fenômeno da sincronização
ocorra em sistemas tecnológicos sem a necessidade de existir um líder que
oriente a forma como os outros agentes osciladores devem se comportar.
“Pretendemos
eliminar a figura do líder e fazer com que a sincronização ocorra em função da
interação entre os agentes, como ocorre com uma espécie de vaga-lumes na Ásia,
que entra em sincronização sem que um deles lidere”, disse Elbert Einstein
Macau, pesquisador do Inpe e outro autor do estudo, do qual participou também
Takashi Yoneyama, do ITA.
Segundo
eles, nessa pesquisa foi analisada a sincronização com um atraso de tempo na
transmissão da informação entre dois osciladores. Mas no trabalho que
desenvolvem atualmente os resultados serão expandidos para uma rede de
osciladores de modo a ampliar a escala do problema, e de sua solução.
Dessa
forma, segundo eles, será possível modelar fenômenos baseados na sincronização
isócrona em escala de rede e contemplar fenômenos naturais que apresentam nível
de complexidade muitas vezes superior.
“Em
princípio, qualquer fenômeno real que se baseia na sincronização isócrona
poderá ser tratado a partir desses elementos teóricos, que podem servir para
projetos de redes tecnológicas, ou para analisar e compreender comportamentos
emergentes em redes naturais, mesmo naquelas em que não temos formas de influir
diretamente”, disse Grzybowski.
O
artigo Stability of isochronal chaos synchronization
(doi:10.1088/1751-8113/44/17/175103) pode ser lido em
http://iopscience.iop.org/1751-8121/44/17/175103/pdf/1751-8121_44_17_175103.pdf
Plasticidade cerebral:"A plasticidade cerebral faz alusão à capacidade
do sistema nervoso para alterar sua estrutura e função ao longo da vida, em
resposta à diversidade ambiental. Embora este termo é usado agora na psicologia
e na neurociência, não é fácil de definir e se usa para indicar as alterações
em vários níveis do sistema nervoso, das provas moleculares, tais como as
alterações na expressão genética, ao comportamento."
A neuroplasticidade, ou plasticidade neural, permite
que os neurônios se regenerem tanto anatomicamente quanto funcionalmente,
formando novas conexões sinápticas. A plasticidade cerebral, ou
neuroplasticidade, é a habilidade do cérebro de se recuperar e se reestruturar.
Esta capacidade de adaptação do sistema nervoso permite que o cérebro se
recupere após transtornos ou lesões, reduzindo os efeitos das estruturas
alteradas devido a patologias como a esclerose múltipla, doença de Parkinson,
deterioração cognitiva, Alzheimer, dislexia, TDAH, insônia, etc.
Plasticidade sináptica
Quando empreendemos novas experiências e aprendizagens,
o cérebro estabelece uma série de vias neurais. Essas vias neurais, ou
circuitos, são rotas feitas de neurônios interligados. As rotas são criadas no
cérebro com o uso e a prática cotidianos, como um caminho na montanha é feito
pelo pastor e seu rebanho. Os neurônios em uma via neural se comunicam entre
eles através de conexões denominadas sinapses, e essas vias de comunicação
podem se regenerar durante a vida. Cada vez que ganhamos novos conhecimentos
(através da prática repetida), a comunicação sináptica entre neurônios é
fortalecida. Uma melhor conexão entre os neurônios significa que os sinais
elétricos viajam com mais eficiência ao criar ou usar uma nova via. Por
exemplo, ao tentar reconhecer um pássaro novo, são feitas novas conexões entre
os neurônios específicos. Os neurônios no córtex visual determina sua cor, o
córtex auditivo seu canto, e outros, o nome do pássaro. Para saber que pássaro
é, suas características, cor, canto e nome são repetidos muitas vezes. Visitar
novamente o circuito neural e restabelecer a transmissão neural entre os
neurônios implicados em cada nova tentativa melhora a eficiência da transmissão
sináptica. A comunicação entre os neurônios relevantes é facilitada e a
cognição é cada vez maior. A plasticidadde sináptica é, talvez, o pilar onde
descansa a fantástica maleabilidade do cérebro.
Neurogénese
Enquanto a plasticidade sináptica é alcançada com a
melhora da comunicação no local sináptico entre os neurônios existentes, a
neurogênese faz alusão ao nascimento e proliferação de novos neurônios no
cérebro. Durante muito tempo, a noção de um contínuo nascimento neural no
cérebro adulto foi considerada herética. Os cientistas acreditavam que os
neurônios morriam e nunca eram substituídos por outros novos. Desde 1944, mas
principalmente nos últimos anos, a existência da neurogênese foi estabelecida
cientificamente e sabemos que ocorre quando as células estaminais, um tipo especial
de célula localizada no giro denteado, no hipocampo e possivelmente no córtex
pré-frontal, se dividem em duas células: uma célula estaminal e uma célula que
se transformará em neurônio, com axônio e dendritos. Esses novos neurônios
depois migrarão a áreas distantes do cérebro onde são necessários e possuirão o
potencial para permitir o cérebro reabastecer seu abastecimento de neurônios.
Da pesquisa animal e humana, sabemos que a morte súbita neural (por exemplo,
após um derrame) é uma forte causa para a neurogênese.
Plasticidade funcional compensatória
O declínio neurobiológico que acompanha o
envelhecimento está bem documentado na bibliografia científica e explica por
que os adultos idosos têm um pior desempenho do que os adultos jovens nos
testes neurocognitivos. Curiosamente, nem todos os adultos idosos mostram um
baixo rendimento. Alguns obtêm resultados tão bons quanto seus opostos. Esta
vantagem comportamental inesperada para um subgrupo de indivíduos idosos foi
investigada cientificamente e foi verificado que, ao processar novas
informações, os adultos idosos com um nível mais alto de desempenho usaram as
mesmas regiões cerebrais que os adultos jovens, mas, também usaram regiões
cerebrais adicionais que não foram ativadas nos adultos idosos com um nível
baixo desempenho. Os pesquisadores ponderaram neste sobre-uso das regiões
cerebrais no caso dos adultos idosos com um nível alto de desempenho e
alcançaram uma conclusão geral de que o uso de recursos cognitivos adicionais
reflete uma estratégia compensatória. Na presença de déficits relacionados ao
envelhecimento e na diminuição da plasticidade sináptica que acompanha o
envelhecimento, o cérebro, mais uma vez, manifesta sua plasticidade de
múltiplas fontes ao reorganizar suas redes neurocognitivas. Os estudos mostram
que o cérebro alcança esta solução funcional atavés da ativação de vias neurais
alternativas, que a maioria das vezes ativam regiões em ambos os hemisférios
(quando apenas um é ativado nos adultos jovens).
Função e comportamento: Aprendizagem, experiência e
ambiente
Vimos que a plasticidade é a propriedade do cérebro que
permite ele modificar suas características biológicas, químicas e físicas.
Porém, à medida que o cérebro é modificado, o funcionamento e comportamento são
alterados paralelamente. Nos últimos anos, foi comprovado que as alterações
cerebrais nos níveis genéticos ou sinápticos são causados por uma ampla
variedade de fatores ambientais e experienciais. Os novos conhecimentos estão
no centro da plasticidade e um cérebro modificado é talvez a manifestação mais
tangível que ocorrreu na aprendizagem de novos conhecimentos, possível pelo
ambiente. Os novos conhecimentos são adquiridos de várias formas, por muitos
motivos e a qualquer momento de nossas vidas. Por exemplo, a criança adquire
novos conhecimentos em grandes quantidades e seu cérebro é modificado
significantemente nesses momentos de aprendizagens intensivas. É possível que o
processo também seja requerido se existe um dano neurológico, por exemplo, por
lesões ou derrames, quando as funções desenvolvidas por uma área cerebral
danificada estão afetadas e devem ser aprendidos novos conhecimentos. Pode ser
intrínseco para o indivíduo e guiado pela sede de conhecimentos. A variedade de
circunstâncias para adquirir novos conhecimentos gera a pergunta de se o
cérebro vai ser modificado quando aprender alguma coisa. A pesquisa indica que
esse não é o caso. Parece que o cérebro vai adquirir novos conhecimentos e
deste modo atualizar seu potencial para a plasticidade, se o novo conhecimento
é adequado em termos de comportamento. Para aprender a marcar o cérebro
fisiologicamente, o conhecimento deve conduzir a modificações no comportamento.
Em outras palavras, o novo conhecimento deve ser relevante e necessário em
termos de comportamento. Por exemplo, o novo conhecimento que garante a
sobrevivência será integrado pelo organismo e aplicado como um comportamento e,
como resultado, o cérebro terá sido modificado. Talvez é mais importante a
dimensão em que uma experiência de aprendizagem é compensadora. Por exemplo, o
novo conhecimento no formato de jogo interativo é particularmente propício para
a plasticidade cerebral e aumenta a atividade do córtex pré-frontal.
Adicionalmente, neste contexto de provisão de incentivos, observaremos a antiga
tradição de dar as crianças apoios e recompensas enquanto se dedicam a
aprender.
Entender as condições para induzir a plasticidade
Em que etapa da vida o cérebro tem mais probabilidades
de ser modificado quando é exposto à estimulação ambiental? Parece que os
padrões de plasticidade são diferentes durante as idades e muitos ainda são
desconhecidos em matéria de interação entre o tipo de atividade de indução de
plasticidade e a idade do sujeito. Não obstante, sabemos que a atividade
inteletual e mental induz a plasticidade cerebral quando é aplicada em adultos
idosos saudáveis ou em adultos idosos com um transtorno neurodegenerativo.
Acima de tudo, parece que o cérebro pode ser alterado de forma positiva e
negativa mesmo antes do nascimento do organismo. Os estudos com animais
mostraram que quando as mães grávidas são colocadas em entornos aprimorados e
estimulantes, o número de sinapse dos filhotes aumenta em áreas cerebrais
específicas. Por outro lado, quando uma leve tensão é aplicada às mães
grávidas, os filhotes mostraram um número de neurônios reduzido no córtex
pré-frontal. Adicionalmente, parece que o córtex pré-frontal é mais sensível às
influências ambientais do que o resto do cérebro. Estes resultados têm
implicações importantes para o debate de "natureza" vs.
"criação", pois parece que a "criação" pode induzir
modificações na expressão dos genes neuronais. Como evolui a plasticidade
cerebral e qual é o efeito da aplicação de tempo para a estimulação ambiental?
Esta pergunta é muito importante por razões terapéuticas e as pesquisas
genéticas com animais proporciona as respostas de referência de que alguns
genes são afetados durante mesmo os processos de estimulação mais curtos, mas
diversos genes continuam sendo afetados com os procesos mais longos de
estimulação, enquanto outros não sofrem alterações ou são reversíveis à
tendência de modificação. Embora o uso geral do termo plasticidade contém uma
conotação positiva, a plasticidade faz alusão a todas as formas em que as
regiões do cérebro e outras modificações podem ocorrer com funções ou
comportamentos afetados. O treinamento cognitivo parece ideal para induzir a
plasticidade cerebral. Proporciona a prática sistemática necessária para
estabelecer novos circuitos neurais e para o fortalecimento das conexões
sinápticas entre os neurônios do circuito. Porém, como foi comprovado, na
ausência de um benefício comportamental tangível, o cérebro não vai adquirir
conhecimentos eficazmente. Portanto, a importância de integrar objetivos
altamente personalizados e relevantes com o treinamento não pode ser
sobrestimada.
[1]Definição obtida de: Kolb, B., Muhammad, A., &
Gibb, R., Searching for factors underlying cerebral plasticity in the normal
and injured brain, Journal of Communication Disorders (2010), doi:10.1016/j.jcomdis.2011.04.007
Montaigne:
"Humanista, Montaigne
defende um certo número de teses sobre as quais sempre retoma em seus Ensaios.
Tendo uma vida dividida entre uma carreira jurídica e administrativa (foi
prefeito de Bordeaux, França), aproveitava-se dos retiros em seu castelo para
se isolar e escrever. O tema: a sabedoria.
Ensaios é sua obra-prima,
que floresceu após 20 anos de reflexão. Consiste em um modo de pensar crítico à
sociedade do século XVI, embora aborde temas variados. Algumas de suas teses
são:
1 – Toda ideia nova é
perigosa;
2 – Todos os homens devem
ser respeitados (humanismo); e
3 – No domínio da
educação, deve-se respeitar a personalidade da criança.
Esta última tese chama
atenção, já que para Montaigne deve-se formar um homem honesto e capaz de
refletir por si mesmo. Este homem deverá procurar o diálogo com os outros,
tendo senso de relatividade sobre todas as coisas. Assim, ele conseguirá se
adaptar à sociedade onde deverá viver em harmonia com os outros homens e com o
mundo. Ele será um espírito livre e liberto de crenças e superstições.
Segundo Montaigne, os
pensamentos e atitudes do homem estão submetidos ao tempo, que pode
metamorfoseá-los. Para chegar a esta conclusão, costuma-se ver o pensamento de
Montaigne dividido em três etapas evolutivas:
A primeira fase é a do
estoicismo, na qual o filósofo adota, sob a influência de seu amigo La Boétie,
a pretensão estoica de alcançar a verdade absoluta. Mas seu espírito convive
mais com a dúvida, e a experiência estoica certamente marcou, para sempre, a
ruptura de Montaigne com qualquer ideia de verdade absoluta.
A segunda fase, como
consequência da primeira e também em razão do ambiente em que viveu, numa
França dividida pelos conflitos intelectuais entre católicos e protestantes,
com muita violência e guerras, Montaigne é seduzido pelos filósofos do
ceticismo, da dúvida. Segundo estes, se o homem não sabe nada de si mesmo, como
pode saber tanto sobre o mundo e sobre Deus e sua vontade? A dúvida é para
Montaigne uma arma contra o fanatismo religioso.
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Na terceira e última
etapa, já maduro e ao fim de sua vida, Montaigne se interessa mais por si mesmo
do que por outros filósofos. Seus últimos escritos, os “Ensaios”, são muito
pessoais. Ele se persuadiu de que o único conhecimento digno de valor é aquele
que se adquire por si mesmo. Seu ceticismo ativo é uma tentativa de crítica
radical dos costumes, dos saberes e das instituições da época. Com isto, a
contribuição de Montaigne é fundamental na constituição do pensamento moderno.
Os “Ensaios” tratam de uma
enorme variedade de temas: da vaidade, da liberdade de consciência, dos coxos,
etc., e por serem ensaios não têm uma unidade aparente. Livremente, o filósofo
deixa seu pensamento fluir e ganhar forma no papel, vagando de ideia em ideia,
de associação a associação. Não escreve para agradar os leitores, nem escreve
de modo técnico ou com vistas à instrução. Ele pretende, ao contrário, escrever
para as gerações futuras, a fim de deixar um traço daquilo que ele foi, daquilo
que ele pensou em um dado momento. Montaigne adotou o princípio grego
“Conhece-te a ti mesmo”. Portanto, segundo ele, a escrita é um meio de chegar a
este conhecimento de si.
Por João Francisco P.
Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela
Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia
pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP"
Veja mais sobre "As
ideias de Michel de Montaigne" em:
https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/as-ideias-michel-montaigne.htm
"A plasticidade cerebral faz alusão à capacidade
do sistema nervoso para alterar sua estrutura e função ao longo da vida, em
resposta à diversidade ambiental. Embora este termo é usado agora na psicologia
e na neurociência, não é fácil de definir e se usa para indicar as alterações
em vários níveis do sistema nervoso, das provas moleculares, tais como as
alterações na expressão genética, ao comportamento."
A neuroplasticidade, ou plasticidade neural, permite
que os neurônios se regenerem tanto anatomicamente quanto funcionalmente,
formando novas conexões sinápticas. A plasticidade cerebral, ou
neuroplasticidade, é a habilidade do cérebro de se recuperar e se reestruturar.
Esta capacidade de adaptação do sistema nervoso permite que o cérebro se
recupere após transtornos ou lesões, reduzindo os efeitos das estruturas
alteradas devido a patologias como a esclerose múltipla, doença de Parkinson,
deterioração cognitiva, Alzheimer, dislexia, TDAH, insônia, etc.
Plasticidade sináptica
Quando empreendemos novas experiências e aprendizagens,
o cérebro estabelece uma série de vias neurais. Essas vias neurais, ou
circuitos, são rotas feitas de neurônios interligados. As rotas são criadas no
cérebro com o uso e a prática cotidianos, como um caminho na montanha é feito
pelo pastor e seu rebanho. Os neurônios em uma via neural se comunicam entre
eles através de conexões denominadas sinapses, e essas vias de comunicação
podem se regenerar durante a vida. Cada vez que ganhamos novos conhecimentos
(através da prática repetida), a comunicação sináptica entre neurônios é
fortalecida. Uma melhor conexão entre os neurônios significa que os sinais
elétricos viajam com mais eficiência ao criar ou usar uma nova via. Por
exemplo, ao tentar reconhecer um pássaro novo, são feitas novas conexões entre
os neurônios específicos. Os neurônios no córtex visual determina sua cor, o
córtex auditivo seu canto, e outros, o nome do pássaro. Para saber que pássaro
é, suas características, cor, canto e nome são repetidos muitas vezes. Visitar
novamente o circuito neural e restabelecer a transmissão neural entre os
neurônios implicados em cada nova tentativa melhora a eficiência da transmissão
sináptica. A comunicação entre os neurônios relevantes é facilitada e a
cognição é cada vez maior. A plasticidadde sináptica é, talvez, o pilar onde
descansa a fantástica maleabilidade do cérebro.
Neurogénese
Enquanto a plasticidade sináptica é alcançada com a
melhora da comunicação no local sináptico entre os neurônios existentes, a
neurogênese faz alusão ao nascimento e proliferação de novos neurônios no
cérebro. Durante muito tempo, a noção de um contínuo nascimento neural no
cérebro adulto foi considerada herética. Os cientistas acreditavam que os
neurônios morriam e nunca eram substituídos por outros novos. Desde 1944, mas
principalmente nos últimos anos, a existência da neurogênese foi estabelecida
cientificamente e sabemos que ocorre quando as células estaminais, um tipo especial
de célula localizada no giro denteado, no hipocampo e possivelmente no córtex
pré-frontal, se dividem em duas células: uma célula estaminal e uma célula que
se transformará em neurônio, com axônio e dendritos. Esses novos neurônios
depois migrarão a áreas distantes do cérebro onde são necessários e possuirão o
potencial para permitir o cérebro reabastecer seu abastecimento de neurônios.
Da pesquisa animal e humana, sabemos que a morte súbita neural (por exemplo,
após um derrame) é uma forte causa para a neurogênese.
Plasticidade funcional compensatória
O declínio neurobiológico que acompanha o
envelhecimento está bem documentado na bibliografia científica e explica por
que os adultos idosos têm um pior desempenho do que os adultos jovens nos
testes neurocognitivos. Curiosamente, nem todos os adultos idosos mostram um
baixo rendimento. Alguns obtêm resultados tão bons quanto seus opostos. Esta
vantagem comportamental inesperada para um subgrupo de indivíduos idosos foi
investigada cientificamente e foi verificado que, ao processar novas
informações, os adultos idosos com um nível mais alto de desempenho usaram as
mesmas regiões cerebrais que os adultos jovens, mas, também usaram regiões
cerebrais adicionais que não foram ativadas nos adultos idosos com um nível
baixo desempenho. Os pesquisadores ponderaram neste sobre-uso das regiões
cerebrais no caso dos adultos idosos com um nível alto de desempenho e
alcançaram uma conclusão geral de que o uso de recursos cognitivos adicionais
reflete uma estratégia compensatória. Na presença de déficits relacionados ao
envelhecimento e na diminuição da plasticidade sináptica que acompanha o
envelhecimento, o cérebro, mais uma vez, manifesta sua plasticidade de
múltiplas fontes ao reorganizar suas redes neurocognitivas. Os estudos mostram
que o cérebro alcança esta solução funcional atavés da ativação de vias neurais
alternativas, que a maioria das vezes ativam regiões em ambos os hemisférios
(quando apenas um é ativado nos adultos jovens).
Função e comportamento: Aprendizagem, experiência e
ambiente
Vimos que a plasticidade é a propriedade do cérebro que
permite ele modificar suas características biológicas, químicas e físicas.
Porém, à medida que o cérebro é modificado, o funcionamento e comportamento são
alterados paralelamente. Nos últimos anos, foi comprovado que as alterações
cerebrais nos níveis genéticos ou sinápticos são causados por uma ampla
variedade de fatores ambientais e experienciais. Os novos conhecimentos estão
no centro da plasticidade e um cérebro modificado é talvez a manifestação mais
tangível que ocorrreu na aprendizagem de novos conhecimentos, possível pelo
ambiente. Os novos conhecimentos são adquiridos de várias formas, por muitos
motivos e a qualquer momento de nossas vidas. Por exemplo, a criança adquire
novos conhecimentos em grandes quantidades e seu cérebro é modificado
significantemente nesses momentos de aprendizagens intensivas. É possível que o
processo também seja requerido se existe um dano neurológico, por exemplo, por
lesões ou derrames, quando as funções desenvolvidas por uma área cerebral
danificada estão afetadas e devem ser aprendidos novos conhecimentos. Pode ser
intrínseco para o indivíduo e guiado pela sede de conhecimentos. A variedade de
circunstâncias para adquirir novos conhecimentos gera a pergunta de se o
cérebro vai ser modificado quando aprender alguma coisa. A pesquisa indica que
esse não é o caso. Parece que o cérebro vai adquirir novos conhecimentos e
deste modo atualizar seu potencial para a plasticidade, se o novo conhecimento
é adequado em termos de comportamento. Para aprender a marcar o cérebro
fisiologicamente, o conhecimento deve conduzir a modificações no comportamento.
Em outras palavras, o novo conhecimento deve ser relevante e necessário em
termos de comportamento. Por exemplo, o novo conhecimento que garante a
sobrevivência será integrado pelo organismo e aplicado como um comportamento e,
como resultado, o cérebro terá sido modificado. Talvez é mais importante a
dimensão em que uma experiência de aprendizagem é compensadora. Por exemplo, o
novo conhecimento no formato de jogo interativo é particularmente propício para
a plasticidade cerebral e aumenta a atividade do córtex pré-frontal.
Adicionalmente, neste contexto de provisão de incentivos, observaremos a antiga
tradição de dar as crianças apoios e recompensas enquanto se dedicam a
aprender.
Entender as condições para induzir a plasticidade
Em que etapa da vida o cérebro tem mais probabilidades
de ser modificado quando é exposto à estimulação ambiental? Parece que os
padrões de plasticidade são diferentes durante as idades e muitos ainda são
desconhecidos em matéria de interação entre o tipo de atividade de indução de
plasticidade e a idade do sujeito. Não obstante, sabemos que a atividade
inteletual e mental induz a plasticidade cerebral quando é aplicada em adultos
idosos saudáveis ou em adultos idosos com um transtorno neurodegenerativo.
Acima de tudo, parece que o cérebro pode ser alterado de forma positiva e
negativa mesmo antes do nascimento do organismo. Os estudos com animais
mostraram que quando as mães grávidas são colocadas em entornos aprimorados e
estimulantes, o número de sinapse dos filhotes aumenta em áreas cerebrais
específicas. Por outro lado, quando uma leve tensão é aplicada às mães
grávidas, os filhotes mostraram um número de neurônios reduzido no córtex
pré-frontal. Adicionalmente, parece que o córtex pré-frontal é mais sensível às
influências ambientais do que o resto do cérebro. Estes resultados têm
implicações importantes para o debate de "natureza" vs.
"criação", pois parece que a "criação" pode induzir
modificações na expressão dos genes neuronais. Como evolui a plasticidade
cerebral e qual é o efeito da aplicação de tempo para a estimulação ambiental?
Esta pergunta é muito importante por razões terapéuticas e as pesquisas
genéticas com animais proporciona as respostas de referência de que alguns
genes são afetados durante mesmo os processos de estimulação mais curtos, mas
diversos genes continuam sendo afetados com os procesos mais longos de
estimulação, enquanto outros não sofrem alterações ou são reversíveis à
tendência de modificação. Embora o uso geral do termo plasticidade contém uma
conotação positiva, a plasticidade faz alusão a todas as formas em que as
regiões do cérebro e outras modificações podem ocorrer com funções ou
comportamentos afetados. O treinamento cognitivo parece ideal para induzir a
plasticidade cerebral. Proporciona a prática sistemática necessária para
estabelecer novos circuitos neurais e para o fortalecimento das conexões
sinápticas entre os neurônios do circuito. Porém, como foi comprovado, na
ausência de um benefício comportamental tangível, o cérebro não vai adquirir
conhecimentos eficazmente. Portanto, a importância de integrar objetivos
altamente personalizados e relevantes com o treinamento não pode ser
sobrestimada.
[1]Definição obtida de: Kolb, B., Muhammad, A., &
Gibb, R., Searching for factors underlying cerebral plasticity in the normal
and injured brain, Journal of Communication Disorders (2010), doi:10.1016/j.jcomdis.2011.04.007
Montaigne:
"Humanista, Montaigne
defende um certo número de teses sobre as quais sempre retoma em seus Ensaios.
Tendo uma vida dividida entre uma carreira jurídica e administrativa (foi
prefeito de Bordeaux, França), aproveitava-se dos retiros em seu castelo para
se isolar e escrever. O tema: a sabedoria.
Ensaios é sua obra-prima,
que floresceu após 20 anos de reflexão. Consiste em um modo de pensar crítico à
sociedade do século XVI, embora aborde temas variados. Algumas de suas teses
são:
1 – Toda ideia nova é
perigosa;
2 – Todos os homens devem
ser respeitados (humanismo); e
3 – No domínio da
educação, deve-se respeitar a personalidade da criança.
Esta última tese chama
atenção, já que para Montaigne deve-se formar um homem honesto e capaz de
refletir por si mesmo. Este homem deverá procurar o diálogo com os outros,
tendo senso de relatividade sobre todas as coisas. Assim, ele conseguirá se
adaptar à sociedade onde deverá viver em harmonia com os outros homens e com o
mundo. Ele será um espírito livre e liberto de crenças e superstições.
Segundo Montaigne, os
pensamentos e atitudes do homem estão submetidos ao tempo, que pode
metamorfoseá-los. Para chegar a esta conclusão, costuma-se ver o pensamento de
Montaigne dividido em três etapas evolutivas:
A primeira fase é a do
estoicismo, na qual o filósofo adota, sob a influência de seu amigo La Boétie,
a pretensão estoica de alcançar a verdade absoluta. Mas seu espírito convive
mais com a dúvida, e a experiência estoica certamente marcou, para sempre, a
ruptura de Montaigne com qualquer ideia de verdade absoluta.
A segunda fase, como
consequência da primeira e também em razão do ambiente em que viveu, numa
França dividida pelos conflitos intelectuais entre católicos e protestantes,
com muita violência e guerras, Montaigne é seduzido pelos filósofos do
ceticismo, da dúvida. Segundo estes, se o homem não sabe nada de si mesmo, como
pode saber tanto sobre o mundo e sobre Deus e sua vontade? A dúvida é para
Montaigne uma arma contra o fanatismo religioso.
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Na terceira e última
etapa, já maduro e ao fim de sua vida, Montaigne se interessa mais por si mesmo
do que por outros filósofos. Seus últimos escritos, os “Ensaios”, são muito
pessoais. Ele se persuadiu de que o único conhecimento digno de valor é aquele
que se adquire por si mesmo. Seu ceticismo ativo é uma tentativa de crítica
radical dos costumes, dos saberes e das instituições da época. Com isto, a
contribuição de Montaigne é fundamental na constituição do pensamento moderno.
Os “Ensaios” tratam de uma
enorme variedade de temas: da vaidade, da liberdade de consciência, dos coxos,
etc., e por serem ensaios não têm uma unidade aparente. Livremente, o filósofo
deixa seu pensamento fluir e ganhar forma no papel, vagando de ideia em ideia,
de associação a associação. Não escreve para agradar os leitores, nem escreve
de modo técnico ou com vistas à instrução. Ele pretende, ao contrário, escrever
para as gerações futuras, a fim de deixar um traço daquilo que ele foi, daquilo
que ele pensou em um dado momento. Montaigne adotou o princípio grego
“Conhece-te a ti mesmo”. Portanto, segundo ele, a escrita é um meio de chegar a
este conhecimento de si.
Por João Francisco P.
Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela
Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia
pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP"
Veja mais sobre "As
ideias de Michel de Montaigne" em:
https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/as-ideias-michel-montaigne.htm
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